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Cayo Vinícius

Porque os ceramistas são tão bons em lidar com falhas


Você já pensou em como os artistas se recuperam quando ocorre um desastre? Como eles lidam com o sentimento de frustração?

Em meados de novembro de 2017, a ceramista Jennie Jieun Lee estava movendo uma escultura de cerâmica de tamanho natural de uma mulher para fora de seu estúdio. A peça, que levou alguns meses para ser criada, estava prestes a ser fotografada antes de estrear em uma feira de arte em Miami. Durante o processo de movimentação, a peça sofreu um solavanco e caiu no chão. Ficou completamente destruída.

Lee tirou uma fotografia dos pedaços quebrados no chão e postou em seu Instagram, marcando o @Ceramic_Casualties - uma conta dedicada especialmente às tais catástrofes cerâmicas, dirigida pela artista Taylor Robenalt-.

O perfil do Ceramic Casualties é cheio de acidentes que vão desde rachaduras e trincas até dramáticas explosões de forno -incidentes “típicos” que são muito familiares para aqueles que passam algum tempo trabalhando com argila. As imagens falam da natureza volátil da argila e da miríade de percalços que podem ocorrer durante o processo de criação, desde a concepção até a queima.

Fica claro que trabalhar com cerâmica requer uma riqueza de conhecimentos, paciência e habilidades laboriosas, mas também a capacidade de lidar com o fracasso e usá-lo para crescer como artista.

"Eu poderia explicar aos meus alunos sobre os problemas que podem acontecer com a argila. Alguns até me escutariam, mas a maioria deles realmente não entenderia até acontecer com eles", diz Robenalt, explicando como ela lançou o Ceramic Casualties enquanto era professora adjunta de cerâmica na Auburn University, no Alabama - EUA. Suas postagens no Instagram permitiram que ela ilustrasse as dezenas de advertências diárias aos alunos iniciantes, além de ser uma maneira de inspirar e mostrar que mesmo os artistas experientes se deparam com problemas.

O que exatamente torna a argila tão volátil? As questões podem surgir nos estágios iniciais, desde a umidade do material até a forma como é amassada e armazenada. Se a argila estiver muito molhada ou muito seca, ela pode entrar em colapso ou desmoronar. Se suas partes estiverem indevidamente ligadas, podem quebrar. Se a peça não estiver seca durante a queima, pode quebrar ou até explodir no forno.

A esmaltação também é notoriamente complicada. Se o esmalte for muito grosso ou muito fino, os resultados desejados não são alcançados. Além disso, as reações químicas entre argila e esmalte podem não ser como esperado, causando bolhas e flocos na superfície da peça. A queima, então, é uma ciência a parte.

Os ceramistas não são apenas desafiados a conquistar avanços de destreza e criatividade, mas também de química. Mesmo quando todos os cuidados foram tomados, ainda há um ‘frio na barriga’ com as surpresas que podem acontecer ao abrir o forno.

"Geralmente um pequeno detalhe que passa despercebido pode inutilizar uma peça inteira", diz o artista Matt Wedel, que cria esculturas maciças de plantas e criaturas paradisíacas. "Há tantas variáveis ​​que sempre faço um check list mental de todo o processo".

As apostas são ainda maiores, acrescenta Wedel, quando se trabalha em larga escala, Quando uma peça gigante quebra, pode danificar o forno e faz com que testar novas ideias se torne particularmente assustador. "A ansiedade que se sinto é como segurar um balão cercado por cactos. Há tantas coisas que podem dar errado".

"Falhas na cerâmica são inevitáveis", concorda Linda López. Ela é conhecida por suas peças pontudas, sempre esmaltadas em cores chamativas. Somente na semana em que foi entrevistada, ela perdeu quase toda uma fornada por rachaduras e pela cor do esmalte não ser a que ela desejava. Das peças que restaram, uma rolou pela mesa e caiu no chão espatifando-se. Com seus inúmeros colegas ceramistas ela aprendeu a superar essas falhas e seguir em frente: "Você respira profundamente, pega os fragmentos e começa de novo", diz ela.

Apesar de sua natureza “volátil”, os ceramistas concordam que as oportunidades oferecidas pela argila - e a capacidade de criar quase qualquer objeto imaginável - superam sua bagagem. "Eu continuo trabalhando em argila porque as falhas acontecerão, não importa o meio", diz Lopez. "Na verdade, as falhas acontecem o tempo todo - eu mesma sempre queimo o arroz - então com a argila só estou aprendendo a aceitar e tentar novamente".

"Há tanta emoção na abertura de uma forno depois que suas peças foram queimadas", explica Wedel. "As obras têm a palavra final sobre quem você é como artista e, por isso, sempre queremos atingir nosso objetivo. No caso da cerâmica, o processo pode ser muito cansativo até chegarmos ao material que realmente queremos. Outros tipos de artistas não lidam pacientemente com tantas adversidades”.


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