O CCBRas inaugura nesta postagem a série "Ceramistas Brasileiros", composta de bate papos com artistas de todo nosso país,
O primeiro a participar é Hélio Ademir Siqueira, mais conhecido no meio artístico como Hélio Siqueira. Mineiro nascido em Ouro Fino e que surpreende sempre pelas formas inesperadas e pelas reflexões que suas peças nos causam.
Confira abaixo nossa conversa:
Como começou a sua história com a cerâmica? Foi há quanto tempo?
Hélio Siqueira: Na verdade sou um artista plástico que teve no desenho o ponto de sustentação da livre criação em artes plásticas. Minha formação foi toda feita através do desenho e da pintura. Tive grandes mestres que valorizavam primordialmente estas duas técnicas, com toda razão. Você tendo conhecimento profundo destas duas coisas importantes, as outras chegam quase que espontaneamente. Na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), onde eu fui professor de desenho e pintura, aproveitava os intervalos livres das aulas para me dedicar a cerâmica. Pura curiosidade. De 1979 a 1990.
Houve algum motivo específico que fez você se encantar com a arte cerâmica?
Hélio Siqueira: Sempre fui um artista inquieto. Aprender muitas técnicas, no meu entendimento, me colocava de prontidão e apto para responder as perguntas dos meus alunos mais curiosos.
Quem foi seu primeiro professor/mestre?
Hélio Siqueira: Como disse anteriormente, tive muitos mestres, mas na cerâmica foi Antonio Poteiro. Eu sou admirador incansável do trabalho dele.
Seu trabalho é mais artístico ou utilitário?
Hélio Siqueira: Nunca passou pela minha cabeça fazer utilitários, mesmo porque nunca procurei formação nesta área. Todo meu trabalho girou e gira em torno da escultura. Com isso eu não quero dizer que não admiro os objetos utilitários com um bom desenho, o fato é que eu não me proponho a fazer isso, pelo menos por enquanto.
Quais são as técnicas mais adotadas por você? Há alguma preferida?
Hélio Siqueira: Sempre construo minhas peças manualmente, pedacinho por pedacinho. Nunca uso torno. O prazer está em criar independente de uma forma básica geométrica. Uso todas as possibilidades de construção das peças, com pedaços de barro, placas, blocos compactos, etc.
Seu processo criativo é planejado ou inusitado?
Hélio Siqueira: Como o desenho pra mim é ponto fundamental, todas as peças nascem de estudos profundos de desenho. Esboços e mais esboços, cadernos e mais cadernos, tudo é motivo para anotação. Tudo o que me toca de alguma forma, um objeto industrial, um toco de madeira encontrado por acaso, uma pedra, uma obra de um artista com o qual eu me identifico, eu anoto no bloco. Um dia aquela ideia amadurece e pode me servir para a criação do meu trabalho.
Você se inspira em outros artistas / movimentos?
Hélio Siqueira: Tenho sim os artistas que eu me inspiro, mas tudo isso passa por um crivo rigoroso onde eu tento colocar as coisas que eu acredito, principalmente aquelas mais profundas vividas e vivenciadas pela minha alma.
Como você descreveria o seu trabalho?
Hélio Siqueira: Meu trabalho tem um pouco de primitivo. As vezes me vejo ligando as duas pontas entre o erudito e o popular. Depois que mergulhei profundamente nas minhas origens vividas nos arredores e na cidade de Ouro Fino/MG, tudo ficou mais fácil.
Para você, qual a etapa mais desafiadora de seu processo de criação?
Hélio Siqueira: Creio que a cerâmica é a técnica mais difícil de dominar. Os caminhos são muitos. Você deve mirar um ponto e focar nele. A maleabilidade do barro sem o pensamento anterior do desenho pode lhe levar por caminhos grotescos e absurdos porque o barro em suas mãos é matéria que aceita tudo. Melhor mesmo é não fugir de suas concepções de vida. Todas as etapas são difíceis. Desde a preparação da argila até sua queima. A cerâmica é um trabalho braçal que exige muito esforço.
Você possui alguma rotina ou gosta de criar quando possui tempo livre?
Hélio Siqueira: Para mim o artista tem que ser metódico. A criação só se dá quando você esta completamente envolvido naquilo que deseja fazer.
Algum trabalho particularmente especial que você gostaria de compartilhar conosco?
Hélio Siqueira: Compartilho aqui o vídeo da exposição "Uma Questão de Fé" produzida pelo Centro Cultural da UFMG em Belo Horizonte no ano de 2016 e que teve curadoria do Professor Rodrigo Vivas.
Você acha que a cerâmica brasileira já possui um destaque merecido ou ainda há um longo caminho a percorrer?
Hélio Siqueira: A cerâmica brasileira na atualidade esta dando o seu recado. Minha geração ajudou a levantar bandeiras e as gerações mais novas estão agarrando essas bandeiras com toda força. Muita coisa boa existe por ai. Quem tem olhos e conhecimento que as descubra para poder digeri-las e apreciá-las.
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